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Dia Mundial da Selfie no Museu e outras considerações

 

Apesar de ser o Dia Mundial da Selfie no Museu, descobri que também existem Museus da Selfie, museus estes itinerantes e que vão saltando de local em local mas em vez de ter selfies em exposição têm vários cenários para que se criem as referidas selfies!

Por um lado tem piada a independência de se tirar uma foto para guardar em memória um momento especial sem ter de depender de terceiros (estica o braço ou o stick e está a coisa feita) ou o casal enroladinho que deixa testemunho futuro daquele momento de amor, mas não percebo a absoluta obsessão em se autorretratar constantemente!

O autorretrato é uma forma antiga de representação imagética, presente já no antigo Egito e desde então, muitos dos antigos mestres e também artistas modernos, reproduziram a sua própria imagem numa variedade de meios por diversos motivos, sejam eles artísticos, comerciais ou de autopromoção. Até aqui eu ainda vou.

E estico a coisa a uma representação de uma introspeção em que do fora se foi ao dentro; enquanto se pinta cada curva, cada ruga, cada marca, se analisa de onde esta veio e como mudou, para melhor ou para pior, o autorrepresentado.

Agora, o eternizar a ingestão de qualquer pizza, a porta de qualquer loja ou a ida a qualquer “sítio onde ninguém pode ir por nós”, já me parece um absurdo necessitar de mostrar que se existe, o obter de provas de que se está neste mundo e de que fazemos mais do que apenas respirar – provando tudo isto (ou pensando provar) ao ter uma profícua coleção instagramada.

Como se a vida ou o impacto que nela temos se resumisse ou pudesse ser qualificado pelo segundo em que distraídos deitamos a língua de fora p’ro telemóvel. Para não falar de quando não são segundos e toda a vida se vive (???) em cenários instagramáveis bonitos para que não se tenha realmente de viver ou lidar com o que está “fora de cena”. Mais triste ainda quando arrastamos “atores secundários” para esses cenários que nada mais são do que adereços em vez de serem na realidade filhos, amigos, familiares.

Fugimos de nós próprios autorretratando-nos para as redes sociais procurando validação para a nossa existência em vez de efetivamente a vivermos e a fazermos valer.

Mas voltando aos referidos museus, a possibilidade de interagir com amigos e familiares em cenários divertidos, brincando com verdadeiros adereços em vez de adereçar a vida, pode ser uma boa ferramenta para reaproximar pessoas não as afastando de forma demasiado desconfortável da sua necessidade de se autoinstagramar.

Na verdade o pobre deste dia que já aniquilei com tanto fel sobre o como nos escondemos em plena vista, era mesmo para ver se, colocando fotos na net, incentivamos os amigos e os demais desconhecidos amigados seguidores a virem também visitar o museu onde nos autorretratamos. Porque o visitar e o ver, memórias passadas ou futuras, representações e interpretações do presente e da realidade, vai caindo em desuso, não vá a criatura ser apelidada de nerd porque gosta de um pouquinho de conhecimento.

Chiça! que hoje estou mesmo cáustica!

Vá lá povo, é ir aos museus, aproveitar e passar um bom bocado, tirar umas selfies com um pouco de cultura à mistura e pronto, eu deixo postar nas redes sociais! Divirtam-se! Be your self – Be your best – Enjoy your life!

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