Desde que a nossa Gigi partiu em Fevereiro as coisas por cá andam mais calmas. A Gi era um doce mas “cão-de-guarda” e também algo nervosa e stressada: ladrava a tudo o que pudesse ameaçar os donos e ai dos trovões, relâmpagos e principalmente brisa-um-pouco-mais-forte que lá vinha a rapariga a choramingar e a pedir festas e proteção fosse que hora fosse da noite… dormir com o braço de fora da cama em cima dela a fazer festinhas (que não podiam parar ou levava-se com narizadas) era o pão-nosso-de-cada-dia. A nossa Delfina, a ficar velhinha e doentinha, é tão doce como o seu sangue de diabética: está sempre tudo bem, só quer paz e sossego, apanhar solinho sempre que o haja, e muitos muitos miminhos de qualquer humano que se aproxime. Ultimamente já não salta às pessoas para pedir festinhas… mas abana imenso a cauda. Salta quando vê que finalmente a vamos levar à rua, o que tem de acontecer 4 a 5 vezes por dia, dada a condição de diabética. Mas é um poço de paciência: vem ter gentilmente connosco, faz-se notar, senta-se a olhar para nós, em desespero de causa coloca uma patinha no nosso joelho ou vai estacionar a tentar “hipnotizar a porta”. A geriátrica Mel, a mais velhinha de todos, lá continua a vida com as dificuldades que sempre teve: gatinho resgatado da rua (aliás como todos os animais que passaram e passam pelas nossas vidas), passou algum período de muito má nutrição pelo que tem problemas de visão desde sempre. Não salta para parapeitos de janela porque da única vez que o fez caiu para casa do vizinho de baixo e brincar com uma bola de papel ou outra coisa é impossível: dá a primeira patada e nunca mais vê onde a coisa foi parar! A comida tem de ser escondida entre o frigorífico e a parede e a desgraçadinha come emparedada, senão a Delfina aspira-lhe a comida toda! Muito curiosa e brincalhona, mas limitada por estas dificuldades, não deixa no entanto de ser o meu gatinho curativo, o meu “gatinho de suporte emocional” que vibra e ronrona tão alto que cura o corpo e a alma. Também sempre na sua, não se chateia com quase nada, e se abusamos lá dá o sinal e vai à sua vida e amigos como dantes! Falta a Ruby, gata caçula da caçula filha, com “maching” personalidades, que só querem estar no seu canto e que ninguém lhes mexa. A Ruby demorou muito mais a abrir-se, e só o faz completamente com a dona, as duas lá no mundo delas, mas vem procurar miminhos e ronrona muito discretamente, enroscando-se em nós quando estamos a trabalhar no computador. Ah, e idas ao WC sempre devidamente acompanhadas: ou vem pedir água do bidé ou até mesmo sentar no nosso colo “não vá algo acontecer”! Mas havia ali um vazio e, como tantas vezes antes, fica a faltar um animalzinho no espaço físico – porque há muitos no coração…Ora, casa de cães – foi desde sempre até que num ato de rebeldia há 15 anos atrás decidi que “quero um gato!” – a verdade é que o corre-corre não se coaduna com idas constantes à rua (já basta horários fixos para refeições e injeções de insulina). E a eterna resistência a gatos porque “não querem saber do dono”, “só se interessam para terem comida”, “não brincam”, “não são meigos” foi caindo com o tempo há medida que se via que o gatinho lá aparecia e se enroscava e ronronava e lambia e dava cabeçadinhas sempre que o dono estava em baixo. É que, a ideia de que os gatos são assim e que são independentes, fazem com que os eduquemos assim, e ao contrário dos cães, não os puxamos para nós, não metemos no bolso do robe, não os levamos para todo o lado e lá os deixamos no seu canto a fazerem a sua vidinha (já reclamavam os Flintstones que o gato não queria ficar fora de casa toda a noite). Criados connosco, juntinho a nós, são um poço de ternura e amor: só não gostam de abusos! (Que infelizmente os cães aturam/aceitam por amarem incondicionalmente e terem esperança de ganhar o amor do dono, porque talvez tenham feito algo errado mas que agora vão ser bonzinhos e fazer tudo bem, como também as crianças abusadas – uma realidade de partir o coração com tanto amor dado em troca de violência). Tudo isto para dizer que a casa tem uma nova adição em forma de uma Garfieldica gatinha bebé que veio revolucionar todas as dinâmicas! Não há paz nem sossego pois a Ginger quer ver tudo e experimentar tudo e vai de comer a comida da pobre Delfina que fica sentada a ver ou se a Ginger se aproxima da nova caminha forrada e almofada para os frios e geriátricos ossos da Delfina, esta levanta-se e vai para outro lado: está sempre tudo bem. Ou brincar com a cauda da Mel com quem já partilha prato porque, lá está, as dinâmicas mudaram e agora de manhã já há mais povo a querer pequeno-almoço do bom, ou então comem o da Delfina. Faz-se para uma e faz-se para outras! Só a Ruby permanece no seu canto, não quer cá confusões como boa adolescente que é, e volta e meia vem em corrida desenfreada repor a ordem no “seu território” ou mostrar quem manda (ou pelo menos estava cá antes) utilizando a caixa de areia especificamente deixada no quarto para a gata bebé. Dona Ginger é brincalhona, vê muito bem, gosta de escalar e por isso acabou a levar que se comprasse um AP (entenda-se árvore-arranhador) para as três, porque cá não há discriminações e também não queremos ninguém a explorar os espaços errados (socorro que esta até escala as prateleiras da despensa)! Ronroneca mor, lá faz as suas pausas deitando em cima do dono, porque aí é que é fixe e mais confortável, apesar de ter a sua própria caminha, das fofas e de bordas levantadas como a da Del e da Ruby (a da Mel é muito antiga, herdada da cadelinha Katy que partiu antes da vinda da Gigi, por isso não tem o tal pelinho). Gatinha da era digital também adora brincar com jogos para gatos no telemóvel (há disso????!!!) e de ver televisão – esperemos que não resolva ir atrás da bola um dia destes! Se está desaparecida, a dormir algures num canto inimaginável (como o armário das toalhas que juramos que estava fechado mas ela descobriu como entrar por baixo da bacia!!!), basta abrir a porta do frigorífico! Ou vocês acharam que a apelidei de Garfieldica por causa da cor??? Não, é mesmo porque come como uma doida, é louca por tudo, não pode ouvir comida que vem logo a correr, sobe por cima de mesas e bancadas e mia insistentemente – muito caminho educativo ainda para percorrer…. – até porque sim, tem laranja, mas de frente é maioritariamente branca e tem a cara metade laranja e metade cinza! É linda! Vidas, vidas de bichinhos resgatados! De casa cheia e mãos ocupadas vos digo que ocupem os vossos corações com estes bichinhos que precisam de um lar e vos darão muito amor em troca e vos ajudarão a Be your self – Be your best – Enjoy your life!