Oportunidades e reencontros OU A menina do papá

Não me lembro de ser assim atirada ao ar, mas lembro-me perfeitamente de estar sentada no colo a ver os desenhos animados do Spiderman! Não me lembro de sopradelas na barriga, mas lembro horas de caminhadas após o jantar! Não me lembro – obviamente – de ser pegada pela cabeça em bebé (de forma técnica e por um profissional, claro) mas lembro infinitas conversas excitantes ao jantar! Tantos porquês respondidos com paciência e algum divertimento por tão entusiasmada curiosidade!!! Tantos “e se?” e “como é que?”, quase infinitos, prolongando a hora do jantar quase colando à ceia! Para bem da verdade, tirando o Spiderman (provavelmente das poucas vezes que ficava mais ou menos quieta), o que recordo vivamente são mesmo a imensidão de conversas, sobre tudo e mais alguma coisa mas essencialmente curiosidades científicas, tidas em qualquer momento ou circunstância: à mesa, em passeios, a fazer recados ou em locais/espaços inusitados! Caramba, como eu falava mesmo pelos cotovelos!!!!  Entretanto as coisas mudam, a saúde (ou a falta dela) meteu-se pelo meio…Não sei o quanto sofreu, mas lembro-me de o ver tão alto, tão elegante, de roupão cinzento e turbante cirúrgico.Não imagino sequer pelo que passou depois… estava demasiado ocupada a ser adolescente… … …  Mais uma vez a escrita direita por linhas tortas, o dia ao contrário, que nos dá oportunidade de reencontros, novas conversas, novas partilhas… mimo às tantas mais retraído menos fluído, ainda apalpando terreno, sem a espontaneidade estonteante da infância, agora bem mais avançados na idade… A saúde mais uma vez interferindo para corrigir as coisas, talvez??? Não faço mais do que a minha obrigação, mas não o sinto como uma obrigação, é algo natural: família é família e a família é tudo o que nós temos! É principalmente um privilégio poder, pelo meio do menos agradável, ter tão agradáveis momentos de partilha e de (re)conhecimento – de reencontro. Por norma com parcas palavras e grande precisão – diz sempre o que é essencial, na medida certa – ultimamente trocámos papéis e vou sendo eu que respondo a perguntas. E ouço histórias e perspectivas e pontos de vista e curiosidade! Muita calma e paciência para me ouvir – todos nós sabemos que as minhas respostas a qualquer pergunta dão sempre um longo artigo de jornal! Mas onde quer que isto nos leve, saboreio estes momentos (talvez menos saltitante ou de olhos esbugalhados pela curiosidade) com o mesmo coração cheio de então e como em menina, com muito orgulho e profunda admiração!!! Ao meu pai. Be your self – Be your best – Enjoy your life