O farol que te guia


Hoje sinto-me presa. Assoberbada. Com um peso no peito. Como que com uma montanha de livros, uns em cima dos outros, tudo tarefas por fazer; tarefas para fazer; tarefas que ainda não na calha, espreitam pouco discretamente pela ombreira da porta, a tentar esgueirarem-se para saltar em cima e carregar com mais peso ainda o peito; tarefas que riem, na cara, espreitam de lá de cima, do alto da montanha e deitam a língua de fora, com som e salpicos, mais parecendo abóboras do Halloween com olhares maléficos. Respirar fundo é difícil, o peso incomportável… Por mais que me diga: “começa a fazer, escreve, põe as ideias que já espreitam cá para fora, diverte-te com as imagens, faz coisas giras!”, por mais que insista “vá, metade já está feito, já tens isto sob controle”, hoje nada parece resultar. Sim, metade já está feito, mas falta o finzinho, pormenorzinho que só posso completar mais tarde e noutro computador – lá se vai o riscar a tarefa da lista que é o mesmo que dizer que lá está ela a saltar em cima da pilha como se esta de um trampolim se tratasse dando-me uma macabra massagem cardiorrespiratória que na realidade NÃO ME DEIXA RESPIRAR!!! E as outras, as outras!, as que já deviam ter sido feitas mas acabaram esquecidas na lista porque outras coisas que não dependem de mim se sobrepuseram, saltaram para o meio, com um golpe as ancas empurraram as demais de tal forma que saltaram da lista e agora para que eu não as esqueça, vão aparecendo discretamente no cantinho da memória, mas pondo na mesma o coração em sobressalto! Detesto não depender só de mim mesma. Mesmo sendo flexível e conseguindo ir colocando mais itens na lista para fazer, reorganizando as prioridades, muitas vezes o que sinto é que sou um malabarista com bolas de bilhar e que de todos os lados atiram mais uma e mais uma e mais uma, e vou colocando a girar com as outras, a girar com as outras, até que uma é demais: ou cai do círculo ou é mesmo lançada de fora diretamente à minha cabeça e caramba, COMO DÓI! Cai tudo. Os braços pendem. Dói tanto que nem grito. As lágrimas correm. Está tudo pelo chão… As pernas cedem e com sorte acabo sentada em cima de uma ou duas bolas de bilhar, que aleijam o cóccix, claro está, e me reduzem à minha insignificância. Mais vale, mais vale parar. Deixar cair as bolas, atirar a pilha de livros ao chão, sair dali de baixo, rolar, de gatas respirar fundo, sentar, esperar um pouco. Parar. Parar. Fazer outra coisa que sei que só mereço depois de completas as tarefas, mas que agora é remédio e não prémio. Libertar a mente. Pôr-lhe um travão. EU SEI, EU SEI! as tarefas serão reorganizadas, por novas prioridades, CALMAMENTE, gentilmente; tudo acabará por ser feito e nenhum mal virá ao mundo. Porque mais que tudo, se não cá estiver para as fazer, se não estiver CAPAZ de as fazer, também não serão feitas. Pára. Respira. Olha o farol. Caminha para ele, sente o sol no teu rosto, respira a brisa do mar, mesmo que lá não estejas. Foca o farol. Deixa-te ir. Relaxa.Tudo se vai compor. Tudo vai correr bem. E estupidamente, algo completamente externo e não relacionado, como uma nova temporada de uma série de que se gosta, tem o poder de deixar o quadro limpo, passar uma esponja, e deixar o ânimo levantado de novo!!! Tudo é passageiro nesta vida, tudo se compõe, tudo se encaixa, tudo se harmoniza. Agarra-te ao teu farol, mantém-no sempre na mira, real ou fictício, é o local que te acolhe, é onde tens que te encontrar, quando precisas que tudo pare, que o vórtex deixe de girar. Be your self – Be your best – Enjoy your life

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3 respostas

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